Desemprego surpreende e tem nova queda
Em linha com as surpresas positivas nos indicadores de atividade dos últimos meses, a taxa de desemprego voltou a cair no trimestre encerrado em abril. O dado veio abaixo da expectativa de economistas e reforça a expectativa por uma economia mais aquecida em 2023.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), a taxa de desocupação caiu a 8,5% no trimestre móvel encerrado em abril, de 8,8% no trimestre encerrado em março. O resultado ficou abaixo da mediana das projeções coletadas pelo Valor Data, de 8,8%. Houve ligeira alta em relação ao verificado no trimestre móvel anterior, encerrado em janeiro (8,4%), mas o movimento é classificado como estabilidade estatística pelo IBGE.
No trimestre encerrado em abril, o país tinha 9,1 milhões de desempregados – pessoas de 14 anos ou mais que buscaram emprego, mas não conseguiram encontrar. Já a população ocupada era de 98 milhões de pessoas, um recuo de 0,6% em relação ao período do trimestre anterior. Frente a igual trimestre de 2022, subiu 1,6% (mais 1,5 milhão de pessoas).
Segundo Alessandra Brito, analista do IBGE, o desemprego não subiu porque não houve aumento na procura por trabalho, uma característica sazonal do período. “Houve aumento da população fora da força de trabalho, mas não parece que isso tenha a ver com o mercado de trabalho, já que houve redução da população desalentada e da população na força de trabalho potencial”, afirmou ela.
“O que a gente pode dizer pela Pnad Contínua é que não parece que o aumento da população fora da força tenha a ver com o mercado de trabalho. Não se vê essa influência de as pessoas acharem que o mercado está ruim e desistirem de procurar. Parece mais ligado a questões demográficas”, afirmou a analista do IBGE.
Pesquisas reforçam a resiliência do mercado de trabalho.
No cálculo dessazonalizado e mensalizado da XP Investimentos, esta é a terceira queda consecutiva da taxa de desocupação, que passou de 8,3% em março para 8,0% em abril – o menor nível desde o segundo trimestre de 2015.
Para o economista Rodolfo Margato, os números mostram resiliência do mercado de trabalho. “Ademais, a recuperação dos rendimentos reais do trabalho prossegue. O rendimento médio real efetivo do trabalho cresceu 0,6% em abril, após virtual estabilidade nos dois meses anteriores. De forma semelhante, nossa proxy para a massa de renda real disponível às famílias avançou 0,7% em abril ante março, o que ajuda a explicar o desempenho do consumo das famílias acima do esperado do no curto prazo.”
“A magnitude da queda [da taxa de desemprego] foi maior do que a gente estava esperando”, diz Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores. Em sua avaliação, o maior destaque da divulgação é a “migração” de postos informais para formais. Como este segundo grupo tende a postos mais estáveis e com rendimentos médios superiores, o movimento poderá contribuir para uma desaceleração menor da economia ao longo do ano. A LCA projetava alta de 1,3% da economia brasileira no início de 2023, mas recentemente revisou a projeção para 1,7%.
Também ontem, o Ministério do Trabalho e Emprego divulgou os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de abril. Foram geradas 180.005 vagas líquidas com carteira assinada em abril, praticamente em linha com a mediana do Valor Data, de 181,7 mil vagas.
“As duas pesquisas mostram resultados positivos, reforçam a resiliência do mercado de trabalho no começo do ano, o que está em linha com as revisões positivas para o PIB, que temos visto”, diz o economista da Tendências Consultoria Lucas Assis.
Para o economista-chefe da Parcitas, Vitor Martello, a sinalização que o mercado de trabalho passa é de uma economia aquecida a ponto de gerar pressões inflacionárias. “A parte da inflação que mais conversa a Pnad é a do setor de serviços. Nos nossos cálculos, o desemprego leva a inflação para a meta do BC está entre 9,0% e 9,5%”, nota.
Fonte: Valor Econômico